Os campos verdes, longas serras, ternos lagos
estendem-se harmoniosos na terra tranquila
onde os olhos adormecem temores vagos
acesos mornamente sob a dura argila,
seca, como outrora mingou a doce esperança
quente, imperecível como sempre o amor
sacrificada, sangrada na lembrança
do esforço bestial do látego opressor.
Em campos verdes, longa serras, ternos lagos
refulgem ígneas chamas, rubros rugem mares
cintilando de ódio, com sorrisos em mil afagos
São as vozes em coro na impaciência
buscando paz, a vida em cansaços seculares
nos lábios soprando uma palavra: independência!
Cadeia de aljube de Lisboa
Setembro de 1960
in “Sagrada Esperança”, Agostinho Neto, Obra Poética Completa, página 114