FAAN

NA PELE DO TAMBOR

As mãos violentas insidiosamente batem
no tambor africano
e a pele percutida solta-me tam-tams gritantes
de sombras atléticas
à luz vermelha do fogo de após trabalho

Esmago-me da pele batida do tambor africano
vibro em sanguinolentas deturpações de mim mesmo
à vontade das percussões alcoólicas
sobre a pele esticada do meu cérebro

Onde estou eu? quem sou eu?

Vibro no couro pelado do tambor festivo
em europas sorridentes de farturas e turismos
sobre a fertilização do suor negro
nas áfricas envelhecidas pela vergonha de serem áfricas
nas áfricas renovadas do brilho firme do sol e da transformação
sedosa e explosiva do universo
dentro do movimento de mim mesmo na vibração ritmada
da pele cerebral do tambor africano
ritmada para o esforço de dançar a dança suave das palmeiras

Vibro
em áfricas humanas de sons festivos e confusos
(que línguas pronunciais em mim irmãos
que não vos entendo neste ritmo?)

Nunca me pensei tão pervertido
ó impureza criminosa dos séculos coloniais
(que história é essa da lebre e da tartaruga
que contas neste novo ritmo de fogueira
à noite
minha avozinha de pele negra de África?)

Mas não tão longe nem tão pervertido
quanto as vibrações
da pele do meu cérebro
esticada no tambor das minhas mãos
pela África humana

As mãos entrelaçadas sobre mim
em gozo de vida em gargalhadas em alegrias
de lagos libertados por amplo verdes
para os mares
dão-me o tom da minha áfrica
dos povos negros do continente que nasce
fora dos abismos escurecidos da negação
ao lado de ritmos de dedos congestionados
sobre a pele envelhecida do tambor
dentro do qual vivo e vibro e clamo:

AVANTE!

1953
in”Sagrada Esperança”, Agostinho Neto, Obra Poética Completa, página 72

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