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A VERDADEIRA BUSSOLA

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Agradeço à Fundação Dr. António Agostinho Neto pela honrosa oportunidade que me concede para falar sobre o amor do seu Patrono pela juventude angolana. Entretanto, reconheço que tal tarefa constitui, também, um elevado desafio devido a todo o simbolismo que o mesmo representa para Angola e não só: Agostinho Neto é a mais proeminente figura angolana do século XX.

Ademais, esta missão torna-se ainda mais desafiante por estarmos no ano do seu Centenário, que também é o do quinto processo eleitoral da história da nossa jovem democracia e do qual a juventude será a franja a ocupar o maior número entre o eleitorado.

O meu agradecimento estende-se também à Administração do Distrito do Neves Bendinha, especialmente à administradora Naulila André, pela organização deste evento, pois a vida e obra do Fundador da Nação Angolana devem ser amplamente divulgadas para que sirvam de força inspiradora para as futuras gerações, sobretudo neste tempo em que escasseiam boas referências.

Antes de me ater no “Amor de Agostinho Neto pela juventude”, faço um resumo de alguns factos que marcaram a sua adolescência e juventude. Como se sabe, Agostinho Neto nasceu em Caxicane, Icolo e Bengo, a 17 de Setembro de 1922. Seus pais foram o pastor Agostinho Pedro Neto e a dona Maria da Silva Neto, ambos professores.

Já com a família a residir em Luanda, pelo facto de seu pai ter sido transferido para a Missão Evangélica de Luanda, em 1934, Agostinho Neto matricula-se no Liceu Salvador Correia e, rapidamente, a sua inteligência fá-lo muito afamado entre os professores e estudantes. Porém, a vida estudantil pelo Liceu, que devia levar apenas sete anos, acabou por se estender até aos dez porque o irmão mais velho, Pedro Agostinho Neto, não era tão inteligente quanto ele e os pais não aceitavam que o menor estivesse à sua frente nos estudos.

Enquanto ficava sem estudar, Agostinho Neto ocupava-se como professor na Escola da Missão Evangélica, tendo ganhado o apelido de “professor pequeno”, e criou o CEJA – Centro Evangélico da Juventude Angolana, um núcleo que congregava jovens de várias denominações religiosas para discutir todos os problemas sociais da época.

No CEJA, de forma clandestina, Agostinho Neto incentivava os jovens a não desanimarem por causa dos obstáculos que encontravam na hora dos exames para o Liceu, porque a grande maioria era constantemente reprovada, pois o colono não queria que os negros passassem da 4ª Classe. Tal significaria a perda de criados em suas casas. Com as orientações de Agostinho Neto o quadro alterou-se.

É também durante a sua estadia no Liceu Salvador Correia que Agostinho Neto, isto em 1936, na Liga Nacional Africana, faz o seu primeiro grande acto público. Ora nas exéquias do missionário metodista Robert Shields, que trabalhara em Angola durante vários anos. Em 1938, com 16 anos, Neto publica os seus primeiros escritos nos jornais “O Estandarte”, “O Farolim” e “O Estudante”. Neste exercício, que foi até 1946, expunha preocupações sociais e denunciava as más práticas do regime colonial. Também começou a escrever os seus poemas, que se tornaram no seu meio de eleição para escancarar a opressão colonial.

Agostinho Neto, que esteve no Quadro de Honra no 5º e 7º anos, em 1944, termina o Liceu Salvador Correia com a classificação de 18 valores, que lhe conferia o direito de ir fazer formação superior em Portugal. Entretanto, foi preterido por um estudante mestiço e católico, de Cabinda.

Com os pais sem recursos, Agostinho Neto não desanima. Concorre a uma vaga nos Serviços de Saúde. Admitido, é colocado na Província de Malanje e, mais tarde, na do Bié. Três anos depois, com a ajuda de uma bolsa da Igreja Metodista Unida e da sua poupança, ruma a Portugal para cursar Medicina.

Em Portugal, Agostinho Neto, enquanto estudante, não deixa de lado a sua preocupação com as injustiças em Angola. Envolve-se em actividades politicas, que o levam, várias vezes, à cadeia, atrasando a sua formação. Em Julho de 1957, foi libertado de uma das prisões que sofrera. Entrega-se aos estudos e, no ano seguinte, em Outubro de 1958, conclui a formação, no mesmo dia em que contrai matrimónio com a escritora Maria Eugénia Neto, em Lisboa. Agostinho Neto contava com 36 anos de idade.

Conquistada a independência, a 11 de Novembro de 1975, e já nas funções de Presidente de Angola, seguramente, fruto da sua própria experiência pessoal, Agostinho Neto implementa a sua visão sobre o caminho ideal que a juventude deve trilhar, sobretudo num país como era o nosso, com múltiplos desafios. E este caminho era o da formação, passando, assim, a ser a grande missão do Estado angolano.

Importa realçar que o Presidente Agostinho Neto começou a demonstrar o seu amor ainda com as crianças, ao implementar a celebração do 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, que as autoridades coloniais não celebravam. Agostinho Neto justificou que tal medida se deveu ao facto de que a Humanidade e todos os homens e mulheres no Mundo compreenderam que é preciso defender os Direitos da Criança, quer dizer, é necessário trabalhar muito para que a criança possa desenvolver-se conforme os melhores desejos de toda a Humanidade, que possam alimentar-se, que possam crescer, que possam estudar, que possam tratar das suas doenças (se as tiverem), que possam, enfim, desenvolver-se normalmente para que, no futuro, quando atingirem a idade adulta, estas crianças tenham a possibilidade de exercer as funções normais dentro da sociedade em que vivem.

Voltando ao seu amor pela juventude, Agostinho Neto considerava este segmento muito importante e, deste modo, devia ser devidamente organizado, sob pena de facilmente os jovens desviarem-se do caminho certo, facto que comprometeria o futuro do país. A organização da juventude, segundo defendia Agostinho Neto, ia permitir que os jovens não levassem a vida a farrar, ou seguissem por caminhos menos dignos. E sendo que, na altura, a organização devia dar lugar a uma sólida formação, e como o país estava com alto défice de professores para formar os jovens e crianças, o Presidente Agostinho Neto chegou a pedir aos membros do seu partido cujos níveis de escolaridade permitiam que passassem a dar aulas às crianças e aos jovens, pelo menos uma a duas horas por dia.

Agostinho Neto, que chegou a declarar publicamente que EDUCAR A JUVENTUDE É TAREFA DE TODOS, no Acto Central em alusão ao 1 de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, em 1979, sabendo da real importância que representava a formação para os jovens, pediu ajuda a outros países para formar as crianças e os jovens angolanos.

Cuba foi o destino de muitas crianças e jovens angolanos. Com esta cooperação, veio também outra preocupação: a perda do espirito patriótico, do amor à nossa terra, por parte dos jovens bolseiros. Agostinho Neto, a 26 de Janeiro de 1979, em visita a Cuba, durante um encontro com estudantes angolanos na Escola Saydi Mingas, frisou que o fundamental não era só a aprendizagem da ciência e da técnica, os estudantes deviam viver a vida angolana. O Presidente Agostinho Neto, inclusive, fez questão de lhes orientar a não deixarem de enviar cartas aos familiares em Angola. Era imperioso que continuassem a preservar os nossos hábitos e costumes a preocupação de Agostinho Neto, já naquela altura, tinha uma razão: a reconstrução nacional. Passo, então, a citar o que disse o Presidente Neto no mesmo encontro. “A Reconstrução Nacional significa também, e sobretudo, a formação do homem, que o homem actual não seja como o homem do passado, um homem diminuído pela Ignorância, pela falta de perspectivas, por uma ideologia não adequada aos objectivos da nossa Revolução, mas que seja, sim, um quadro, um homem capaz de trabalhar para o bem de todos”, fim de citação.

Fica patente que Agostinho Neto procurava criar na juventude o amor pelo nosso país, facto que os levaria, um dia, caso chegassem a ser dirigentes, a ter uma gestão virada para o bem de todos, tal como ele próprio implementou na prática enquanto Presidente de Angola. O Desporto era também uma área que Agostinho Neto recomendava que devia ocupar a juventude, e àqueles que o praticavam pedia mais entrega para que algumas conquistas chegassem ao nosso país.

Igualmente, dá-se nota de que o amor e confiança pela juventude por parte do Presidente Agostinho Neto ficou também marcado na composição do Governo que formou depois da Independência e a provar o que digo cito o facto de que, após a sua morte, em Setembro de 1979, foi substituído por um quadro do partido com menos de 20 anos do que ele. Refiro-me ao Presidente José Eduardo dos Santos.

Assim, pelo exposto, posso afirmar que, seguramente, esta visão de Agostinho Neto para a juventude, baseada num verdadeiro amor, mesmo no contexto de democracia multipartidária em que nos encontramos, pode ainda ser a Verdadeira Bussola de que precisamos para tirar o país do lugar em que se encontra, com um elevado número de jovens desempregados e sem profissão. A vós, jovens presentes neste espaço, deixo um recado: imitem a resiliência de Agostinho Neto, que superou inúmeros obstáculos para conseguir terminar a Licenciatura em Medicina e dar o seu contributo à luta que nos fez um povo livre do jogo colonial.

 

Muito Obrigado!

Luanda, 21 de Fevereiro de 2022, ano do Centenário de Agostinho Neto.

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