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DISCURSO PARA O DESCERRAMENTO DO BUSTO DO DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO NA REPÚBLICA ITALIANA, 27.06.23

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Suas Excelências,
Prof. Doutor Filipe Zau, Ministro da Cultura e Turismo da República de Angola,
Senhora Embaixadora Dra. Fátima Jardim,
Senhor Conselheiro para a Política de Pessoal e Descentralização do Município de Roma, Dr. Andrea Catarci
Senhor Presidente do VIII (8º) Município de Roma, Dr. Amedeo Ciaccheri
Distintos Membros da Embaixada de Angola na República Italiana
Caros Convidados
Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com imensa satisfação que a Fundação Dr. António Agostinho Neto se faz presente nesta cidade de Roma para cumprir a sua missão de promoção e divulgação do legado histórico do seu Patrono. Agradecemos a todas as entidades que tornaram possível este feito, no âmbito da celebração do centenário natalício de Agostinho Neto que finaliza a 17 de Setembro deste ano.
Em todo o mundo e no nosso país, nas placas que identificam os bustos do Dr. Agostinho Neto, criados, financiados e doados pela nossa Fundação a diversas instituições, municipalidades, centralidades, capitais de província ou países, consta o percurso sintetizado da figura que se pretende homenagear para informar as pessoas. Gostaríamos de colocar aqui os mesmos dizeres e trabalharemos nesse sentido com as entidades competentes.
No âmbito da cooperação académica e cultural, instituiu-se a Cátedra Agostinho Neto, em 2014, uma parceria entre a Fundação Dr. António Agostinho Neto, a União dos Escritores Angolanos e o Departamento de Língua, Literatura e Cultura Estrangeira da Universidade Roma Tre. Em Novembro de 2019, um pouco antes de deflagrar a pandemia do COVID-19, a Fundação decidiu ofertar um busto do poeta, médico e estadista Agostinho Neto à cidade de Roma.
Seguiram-se várias diligências junto às entidades italianas, a começar pelo Embaixador da Itália em Angola, na época, Cláudio Miscia, para fundamentar o mérito da colocação do busto na Itália.
Até à data, existia apenas uma personalidade angolana representada na Itália, mais propriamente na Basílica de Santa Maria Maior, a quarta maior basílica de Roma. Foi nela enterrado, há cerca de 400 anos, Ne Vunda (baptizado como António Manuel), o primeiro embaixador do Reino do Congo no Vaticano quando buscava um reconhecimento dos seus direitos enquanto soberano católico.
Quatro séculos mais tarde, os angolanos lutavam para o reconhecimento dos seus direitos à autodeterminação e independência, contra a submissão colonial. Para o Dr. Agostinho Neto, a relação com a Itália era de particular importância, tanto pela proximidade política quanto cultural. Nesse país viu o seu primeiro livro de poesia, Con Occhi Asciutti, publicado em 1963 pela Editora Mondadori, em Milão. O livro foi fruto da tradução e curadoria política de Joyce Lussu, na época Gioconda Salvadori, depois casada com o senador socialista Emílio Lussu.
Era o seu segundo livro de poesia publicado na Europa. O primeiro foi publicado pela Casa dos Estudantes do Império em Portugal. Na Itália até escreveu um pequeno poema, Angola come Milano, tal era a sintonia com a Resistência italiana.
«… Gli amici mi parlavano della Storia
delle tradizioni, degli edifici
e del sangue dei partigiani
sulle pagine che scriviamo insieme
per la libertà degli uomini.»
Agostinho Neto, 1963
«…Amigos contaram-me sobre a História
de tradições, de edifícios
e o sangue dos guerrilheiros
nas páginas que juntos escrevemos
pela liberdade dos homens.»
Agostinho Neto, 1963
A Itália foi um dos países europeus onde vários movimentos de libertação africanos encontraram afinidades ideológicas ou humanitárias e a solidariedade de pessoas de todos os estratos sociais e políticos.
A ligação com a Itália aprofundou-se com a ida de uma equipa de jornalistas e cineastas italianos da RAI, cadeia de televisão italiana, à 3ª Região Político-Militar em Angola onde filmaram a guerrilha da Luta de Libertação Nacional.
Excelências
Com a pandemia a provocar o seu rasto de morbimortalidade, especialmente na Itália, não foi possível colocar o busto na cidade em algumas datas de aniversários significativos.
Em 2020, a Fundação Agostinho Neto, a Fundação Amílcar Cabral e a Fundação Marcelino dos Santos planearam celebrar o 50º (quinquagésimo) Aniversário da Conferência de Solidariedade para com os Povos das Colónias Portuguesas e da Audiência do Papa Paulo VI a Amílcar Cabral, António Agostinho Neto e Marcelino dos Santos. Estes eventos ocorreram de 27 a 29 de Junho, e a 1 de Julho de 1970, respectivamente.
É importante realçar que faz hoje, dia 27 de Junho de 2023, precisamente 53 anos desde a realização da Conferência de Solidariedade e da Audiência Papal que tiveram um grande impacto internacional e tornaram as lutas independentistas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe mais conhecidas em todo o mundo.
O Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas pretendia, em Julho de 2020, homenagear figuras com uma relação estreita com a cidade de Roma, nomeadamente, o angolano Agostinho Neto, os brasileiros Sérgio Buarque de Hollanda e Murilo Mendes, o português Eduardo Lourenço e a moçambicana Bertina Lopes. Tão pouco foi possível descerrar o busto nessa data.
Após as autorizações da competente Comissão de História e Arte da Superintendência Capitolina para os Bens Culturais da Comuna de Roma que examinou atentamente o busto e emitiu o seu parecer favorável, iniciou-se o processo de identificação de um local idóneo para a colocação da memória.
Finalmente, de 2020 a 2023, a busca por um local onde colocar o busto teve a intervenção de diversos protagonistas e de vários Embaixadores de Angola na Itália. A pesquisa culminou com a proposta da Sra. Prof. Mariagrazia Russo, da Universidade de Estudos Internacionais de Roma para instalar o busto no VIII (8º) Município de Roma e a concordância do seu presidente, o Dr. Amedeo Ciaccheri.
O busto em bronze de António Agostinho Neto na cidade eterna será um marco indelével da vanguarda revolucionária que proclamou a independência de Angola. A Itália foi, como é sabido, o primeiro país da Europa Ocidental a reconhecer a independência de Angola aos 18 de Fevereiro de 1976.
A colocação da escultura no Largo Beato Plácido Riccardi permitirá criar um diálogo estético e histórico com a comunidade local e visitantes, enquanto homenageia o jovem Pietro Bruno, que faleceu neste município durante o apoio à independência de Angola.
Distintos Convidados
A Fundação Dr. António Agostinho Neto manifesta a sua gratidão pela participação activa de ilustres filhos da República Italiana, no processo da Luta pela Independência de Angola, mobilizando a comunidade internacional e divulgando ao mundo todas as vicissitudes resultantes do regime colonial que imperava na época.
Não querendo esquecer a nenhum, não podemos deixamos de relembrar Joyce Lussu, Giancarlo Vigorelli da Comunidade Europeia de Escritores, Alberto Mondadori, Carlo e Leda Giulini, Stefano, Augusta Conchiglia, Piero Gamachio, Dina Forti, Marcella Glisenti, Mario Albano, Gian Novati do IPALMO, Instituto para a Relações entre a Itália, África, América Latina e Médio Oriente, e tantos, tantos outros.
Manifestamos o nosso apreço à Comuna de Roma, ao VIII (8º) Município de Roma, à Prof. Mariagrazia Russo e a todos quanto participaram na concretização final deste projecto de internacionalização de um ícone da libertação de Angola e da África Austral.
Agradecemos igualmente a Sra. Embaixadora Fátima Jardim, a toda equipa da Embaixada da República de Angola na República Italiana pela hospitalidade e acompanhamento do processo e a Sonangol pelo patrocínio do pedestal e sinalética.
Finalmente, aos directores da Fundação que se deslocaram há dias para acompanhar a colocação do busto e dos dados biográficos na placa informativa, os nossos sinceros agradecimentos pelo zelo e trabalho realizado.
Caros Amigos
Agostinho Neto, continua a ser “um exemplo para todas as forças progressistas do mundo na luta em prol de uma ordem internacional nova e mais justa”, tal como escreveu um jornal italiano a 12 de Setembro de 1979, ao anunciar o falecimento do primeiro Presidente de Angola.
Muito obrigada pela vossa atenção.
Maria Eugénia Neto
Roma, 27 de Junho de 2023.

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